Sinto uma grande vontade de chorar
Ao ver a minha mãe aqui
Vindo me visitar
Talvez se eu tivesse pensado um pouco mais
Talvez hoje eu não estaria atrás
De uma cela num pátio de um presídio
Numa triste tarde de domingo
É foda mano, você não sabe, é triste
Mas sobreviver em paz
Aqui tem que ser firme
Veja as fotos penduradas na parede
De madrugada quem deve aqui treme
Chora, sofre, pede pra não morrer
Na lei da cadeia é matar ou morrer
Eu agradeço pela visita
Graças a Deus ainda tenho família
Tenho uns conhecidos
Tenho uma pá de mano
Na rua, no presídio, uma pá de mano
15 anos pra puxar de detenção
Latrocínio na ficha de um ladrão
Sinto uma grande vontade de chorar
Ao ver a minha mãe aqui
Vindo me visitar
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Mãe, como anda lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Como anda o Duda, como anda o Flávio?
Como anda o Mi, o Pixote e o Renato?
Como andam os manos do João Paulo?
Cadê o Keno?
Estão todos em paz, tá valendo
Veja só como que é este lugar
Eu sinto o cheiro de morte no ar
Aqui raramente se fala de amor
Aqui constantemente
É puro sofrimento e dor
Desespero, ódio, vingança
Aqui não tem criança
Nem me ligo nas lembranças
Um regime cruel, interno
Pra dentro do muro, um verdadeiro inferno
Treta toda hora no meu pavilhão
O seguro não, não é lugar de ladrão, não
Sinto uma grande vontade de chorar
Ao ver a minha família aqui
Vindo me visitar
Visitar, visitar
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Meu filho vem correndo e me abraça
Eu já não contenho as lágrimas
Todo dia na cela eu mesmo digo
Mas parar de pensar é impossível
Em liberdade, fugir deste lugar
Cadeia nunca mais
Detenção, nem pensar
Lá em cima fica a minha janela
A minha Bíblia, a minha jega
Eu devia ter pensado na hora
Agora é tarde, parceiro é foda
Eu lá com o revólver na mão
Dentro da mansão
Cara a cara com a vítima, o patrão
Meu parceiro se aproxima e fala
Senta o dedo sem dó
Maluco, mete bala
Cata o dinheiro e as joias que estão no cofre
Carro ligado lá fora
A gente sai no pinote
Tudo certo na sequência
Tudo combinado
Plano bolado, tudo esquematizado
Cena trágica, correria
Imagine a minha agonia
Aí a reação, mano eu nem pensei
Sangue frio até a alma
Eu, bum, atirei
Veja só até que ponto que o dinheiro leva
Sinto na pele que agora a mão de Deus pesa
Minha mãe, minha família, meu filho
Numa triste tarde de domingo
Sinto uma grande vontade de chorar
Ao ver a minha mãe aqui
Vindo me visitar
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças
Mãe, como vai lá em casa?
Como andam os manos da quebrada?
Diga pros manos que mandei lembranças
Dá um abraço bem forte nas crianças