Nós nascemos prontos pra provar que existimos
Não basta viver, tem que justificar a presença
Cada passo nosso carrega desconfiança, como se andar fosse uma ameaça
Crescemos entre vielas e viatura, onde o silêncio também sangra
Somos o tipo suspeito que estampa a capa do jornal sem nem ter sido ouvido
Nos colocaram rótulos antes de nos darem nomes
Elemento, marginal, bandido em potencial
Mas ninguém fala da falta de escolha e do medo que também sentimos
Aos olhos do estado, a favela é uma zona de guerra
O cidadão virá suspeito
E o direito? Uh, o direito é um luxo distante
O olhar da autoridade julga primeiro, atira em segundo, porra!
E só pergunta se restar tempo
O corpo preto é evidência e o silêncio vira confissão
Nós sabemos o peso do olhar atravessado
O frio na espinha ao ver a viatura dobrando a esquina
Mas nós seguimos e se o único papel que nos deram foi o de vilão, é esse papel que vamos assumir
E aos poucos vamos conquistar o nosso espaço, da nossa forma
Porque somos mais que estatística, mais que estereótipo
Somos multidão, a cara do enquadro