Mas quem vem lá neste picaço frente aberta?
Que bom que seja do rincão do Araçá
Faz tanto tempo que me fui, perdi a conta
Talvez me conte como tudo anda por lá
Mas quem será naquele baio pêlo grosso?
Que pelo tranco tá com pressa de chegar
Vem pela estrada grande que vai pra cidade
Mas pelas garras e o chapéu não é de lá
Quem vem de lá neste picaço frente aberta?
Sou eu compadre, quanto tempo, que saudade!
Pra onde tu vais com a mala cheia e sem cachorro, tchê?
Juntei uns pilas, vou me embora pra cidade
E o caro amigo, pra onde vai?
Volto pro pago que há muito tempo deixei
Ver se o patrão ainda me aceita lá na estância
Tô com saudade da potrada que eu domei
Pois eu tô indo lá pra cidade
Cansei os braço de puxar queixo de potro
Aqui no campo não vivo mais
Trabalho muito só pra encher o bolso dos outros
Que mal pergunte, por que é que voltas?
Porque a cidade é coisa braba meu irmão
Lá pra um campeiro não tem lugar
A bóia é pouca e sobra muita solidão
Mas quando fostes partistes com rumo certo
Tudo acertado para a vida melhorar
Vendeste o zaino e as duas juntas de boi
E agora voltas sem mais nada ao Deus dará
Pois eu troquei meu rancho lindo pela vila
Deixei meu charque por um pedaço de pão
Judiei do baio que era flor nas campereadas
Pra fazer frete, juntar lata e papelão
Tu que tá indo, pensa bem e troca o rumo
Banca na rédea o teu picaço e vem comigo
Não deixa o campo que é teu mundo e tua alma
Bota tenência nesse conselho de amigo
Se é tão difícil a vida assim lá na cidade
Se a realidade é tão cruel e tão mesquinha
Vou frouxar a boca de volta pro pago
Se andar ligeiro chegamo de tardezinha
Pra tomar um mate com cheiro de madrugada
Alivianar o tostado estrela pras carreira
Treinar uma senha pra surrar num truco cego
Pechar boi gordo na saída da mangueira
Acertar o pulso num tiro de volta e meia
Frouxar o corpo na bailanta do Bastião
Abrir o peito numa milonga campeira
Na humildade, na grandeza de um galpão