Solidão de quem tremeu
E a tentação do céu e dos encantos
Eis o que o céu me deu
Serei bem eu sob este véu de pranto
Foi no domingo passado que passei
Pela casa onde vivia a Mariquinhas
Mas está tudo tão mudado
Que não vi em nenhum lado
As tais janelas que tinham tabuinhas
Do rés-do-chão ao telhado
Não vi nada, nada, nada
Que pudesse recordar-me a Mariquinhas
E há um vidro pregado e azulado
Onde havia as tabuinhas
Lisboa, não sejas francesa
Com toda a cerveza
Não vais ser feliz
Lisboa, vaidosa daninha
Gaiada alfacinha [?]
Casar com Paris
Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados
Com as almas na voz
Lisboa, não sejas francesa
Tu és portuguesa
Tu és só pra nós!
Numa casa portuguesa, fica bem
Pão e vinho sobre a mesa
Quando à porta humildemente bater alguém
Senta-se à mesa com a gente!
Fica bem essa franqueza, fica bem
Que o povo nunca a desmente
E a alegria da pobreza
Está nesta grande riqueza
De dar e ficar contente
Lisboa, velha cidade
Cheia de encanto e beleza
Sempre formosa a sorrir
E no vestir sempre airosa
E o branco véu da saudade
Cobre o teu rosto, linda princesa
Olhai, senhores, esta Lisboa de outras eras
Dos cinco réis, das esperas e das touradas reais
Das festas, das seculares procissões
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais
Lai, lai, lai, lai
Lai, lai, lai, lai, lai, lai, lai
Lai, lai, lai, lai, lai, lai, lai
Lai, lai, lai, lai
Das festas, das seculares procissões
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!